segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Evento realizado pelo programa Mulheres em Ação discute sobre Álcool e Trânsito para despertar a mobilização da sociedade civil

A BOVESPA foi palco, no dia 26 de julho, de importante evento realizado pelo Programa Mulheres em Ação com o objetivo de contribuir para que a sociedade civil brasileira aprimore a capacidade de buscar soluções para o desenvolvimento de políticas públicas relevantes.

O seminário, que teve como tema Álcool e Trânsito, trouxe ao Brasil o presidente da entidade não-governamental norte-americana Mothers Against Drunk Driving (MADD) que atua no combate a motoristas alcoolizados, Glynn Birch, e contou também com a participação do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e do psiquiatra e coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ronaldo Laranjeira, que apresentou os resultados do primeiro estudo sobre o tema no Brasil.

O presidente da BOVESPA, Raymundo Magliano Filho, abriu o seminário, relatando a preocupação da Bolsa com o fato de no Brasil a sociedade civil não se valer de todo o seu potencial de mobilização para se articular em prol do bem comum.

A idéia de trazer o MADD ao Brasil surgiu depois que o presidente visitou várias think tanks, grupos e associações norte-americanos que funcionam como um núcleo de produção de idéias e propostas de ação para políticas públicas.

“A democracia nos Estados Unidos tem como base a força da sociedade civil. Resolvemos mostrar como isso ocorre, relatando o trabalho do MADD”, explicou.

Ângela Barros, coordenadora do Mulheres em Ação, acrescentou:

“Temos uma grande capacidade de organização. Precisamos nos mobilizar e encontrar saídas para toda essa violência causada por motoristas alcoolizados. Que o MADD nos sirva de exemplo”

Inês Bozzini, também coordenadora do programa, lembrou o propósito do Mulheres em Ação de promover discussões que contribuam para o desenvolvimento da mulher e da sociedade como um todo.

“Discutir esse tema, a fundo, como estamos fazendo hoje, é um passo importante na busca de uma solução que privilegie a vida e a manutenção de nossas famílias”, observou.

Em sua palestra, o médico Ronaldo Laranjeira falou da necessidade de regulação do mercado do álcool no Brasil. Laranjeiras também apresentou os resultados de uma pesquisa inédita sobre beber e dirigir, realizada nas cidades de Diadema, Santos, Belo Horizonte, Vitória e São Paulo. Em média, 19% dos motoristas pesquisados estavam com níveis de álcool maiores que os permitidos pela lei e 33% apresentaram algum nível de álcool no sangue. A maior incidência de alcoolizados concentrou-se entre jovens do sexo masculino, solteiros e com idade de 21 a 30 anos. “São dados chocantes, muito acima do que ocorre em outros países”, avaliou. De acordo com ele, já está em andamento uma iniciativa da sociedade que consiste num abaixo-assinado contra a veiculação de propagandas de bebidas alcoólicas, que conta com mais de 700 mil assinaturas e está disponível no site propagandasembebida.org.br.

Da esq. para a dir.: a coordenadora do Mulheres em Ação Inês Bozzini; o ministro da Saúde, José Gomes Temporão; o presidente da BOVESPA, Raymundo Magliano Filho; o presidente da MADD, Glynn Birch; o psiquiatra Ronaldo Laranjeira; e a coordenadora do Mulheres em Ação Ângela Barros.

A platéia acompanhou, a seguir, o depoimento de Glynn Birch, primeiro homem a presidir a entidade que foi criada no Texas, nos anos 80, por mães que perderam filhos em acidentes de trânsito. Birch contou como o MADD conseguiu, por meio de mobilização junto à sociedade civil e ao Congresso americano, endurecer o arcabouço legislativo com a aprovação de leis que combatem a direção alcoolizada nos EUA, entre elas a que proíbe a venda de bebidas alcoólicas a menores de 21 anos. “Tivemos mais de 300 mil vidas salvas nos últimos anos”, disse.

Segundo Birch, as mães que fundaram o MADD perceberam que dirigir embriagado era um crime aceito e bastante freqüente nos Estados Unidos. “Motoristas já condenados anteriormente e com cartas revogadas continuavam dirigindo e embriagados, como o que matou o filho de Birch, de um ano e dez meses, em 1988, ao entrar numa área residencial a 110 km/h, com um nível de álcool no sangue três vezes maior do que o permitido.

Diante desse cenário, o MADD passou a registrar estatísticas e contar as histórias das vítimas, alertando a sociedade para o fato de que aqueles números frios eram vidas, conforme relatou Birch. Foram também realizadas ações de sensibilização, como alinhar sapatos nas escadarias do Capitólio simbolizando as vítimas e a divulgação dos nomes de motoristas que tinham a carta suspensa e continuavam dirigindo.

“O MADD se tornou a cara da causa, a voz das vítimas e dos sobreviventes e, assim, conseguiu mobilizar a opinião pública e o Estado. A sociedade pode fazer a diferença”, afirmou Birch.

Segundo ele, desde 2006, a instituição está estendendo o seu trabalho de combate ao álcool na direção também para outros países.

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, encerrou o seminário, comprometendo-se a buscar a implementação de regras e pedindo o apoio da sociedade.

“O abuso do álcool é uma questão extremamente preocupante, porque está relacionado a vários tipos de violência, como agressão, acidentes no trânsito e no trabalho. Vamos envolver o Ministério da Saúde nesta batalha. Mas, se não tivermos uma mobilização da sociedade, continuaremos lamentando os índices”, argumentou.


Temporão ressaltou que não é possível modificar essa situação sem o apoio da sociedade, pois o consumo de álcool no Brasil envolve aspectos culturais e padrões comportamentais.

Entre as medidas que o ministro pretende implementar estão: a contrapropaganda, mostrando os danos causados pelo consumo de álcool; a proibição das propagandas de bebidas alcoólicas; medidas estaduais para a retenção de veículos de motoristas alcoolizados; confinamento desses produtos em local próprio nos supermercados; e proibição de venda em estradas e postos de gasolina. Temporão também propôs um grande evento, em Brasília, para entregar ao Congresso o abaixo-assinado mencionado por Ronaldo Laranjeiras.

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